2006-10-17

A quem beneficia?

Esquecendo o futebol por uns tempos, há mais razões para a indignação em Lisboa. Para este texto serviu de faísca o facto que outro dia na televisão passou uma reportagem na qual um elemento da polícia municipal se gabava de terem andado um ano na caça à multa usando para tal uma carrinha ilegal! Isto só mesmo nesta anedota de país! Só esta declaração, num país a sério, implicava a anulação de TODAS as multas de estacionamento até à data de legalização do dito veículo, bem como a suspensão do elemento em causa. Aqui, não acontece nada. Mas também, a caça à multa é de tal forma parte importante das receitas da polícia municipal que esta vereação nem sequer sonha em tentar resolver os problemas de trânsito em Lisboa, antes prefere aumentar a dita cuja caça à multa, e "espremer" ainda mais os desgraçados que ainda teimam em morar em Lisboa. Porquê esta afirmação? Porque não é feita nenhuma tentativa de limitar a entrada de veículos em Lisboa, não é reforçada a rede de transportes públicos, e os habitantes que mesmo assim teimam em andar a pé ou de transporte público vêm os seus veículos multados e bloqueados à porta de casa, em bairros nos quais não há alternativas a não ser o estacionamento nos passeios. Isto porque nos prédios antigos não existem garagens, e naqueles em que existem não há lugares suficientes; além disso, a anedota dos parques da EMEL (cujas tarifas também foram aumentadas de forma a engordar ainda mais os ordenados dos administradores da mesma e de outras empresas municipais) apenas prevê para os habitantes uma tarifa ridícula que os obriga a retirar os veículos do parque entre as 9 e as 18h - forçando os ditos munícipes a pagarem os preços extorsionistas do resto do dia ou a usar o automóvel em vez dos transportes públicos.
A quem beneficia tudo isto? Aos administradores das empresas municipais, que até se recusam a informar os acionistas (vereadores) relativamente aos seus lucros e perdas, aos ordenados, a toda a contabilidade? Aos munícipes não beneficia de certeza. Ter uma polícia municipal, que juntamente com os funcionários de uma empresa municipal se dedica a multar quem estaciona em Lisboa, não beneficia quem nela habita; não ter barreiras (monetárias ou físicas) de forma a dissuadir quem não habita em Lisboa de nela entrar com o seu automóvel, também não beneficia os munícipes que pagam já muito para a manutenção de uma cidade que outros utilizam sem custos; e o estado dos transportes públicos não é o mais convidativo...
A semana passada esteve a ser discutido em Milão a cobrança da circulação no centro da cidade, como se faz em Londres. Um dos argumentos mais fortes, foi que em Londres, além da diminuição do fluxo de automóveis, as receitas obtidas com esta cobrança já permitiram financiar na integra mais um ramal de metro. Sabendo isto, pergunto de novo, a quem beneficia esta obsessão na caça à multa e este fechar de olhos às alternativas válidas e provadas para a redução do tráfego automóvel nas cidades? QUEM LUCRA COM ESTE ESTADO DAS COISAS? Não são os munícipes, de certeza.

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