Às vezes queria...

Às vezes queria não ter espinha dorsal, para poder festejar vitórias compradas, treta campeonatos como os adeptos de treta da vara de contumil.
Às vezes queria não ter vergonha nem pingo de moral, para defender para o meu clube a mesma actuação que o clube corrupto, sabendo que neste momento só assim se "ganham" campeonatos em Portugal.
Às vezes queria ser suficientemente "maleável" para acreditar que um candidato a presidente do meu clube que idolatra o capo, emprega a sua mulher, e defende a mesma actuação (fruta, chocolate e cafézinhos) destes como solução para deixarmos de ser roubados tão escandalosamente como este ano.
Às vezes queria ser suficientemente idiota para embarcar na "caça às bruxas" promovida pelos jornaleiros avençados, com o objectivo de afastar mais um treinador do SLB, por este não ter sido capaz de ganhar o campeonato depois de nos terem sido roubados mais de 20 pontos, e depois de ter sido afastado da taça pelo olarápio.
Às vezes queria ser suficientemente ingénuo e idealista para acreditar que os benfiquistas este ano vão votar contra os dois partidos que mais se servem e mais têm servido desta situação.
Às vezes queria ser um português mais típico - engolindo as patranhas dos jornaleiros, imolando treinadores e jogadores do glorioso como se isso parasse a corrupção generalizada que nos prejudica e protege os andrades e as osgas submissas, votando nos dois partidos do governo ou então abstendo-me como se não houvesse alternativa.
Às vezes queria não gostar de futebol, não ser honesto, íntegro, não ser adepto do Benfica. Não defender o desportivismo, a lealdade, a competição honesta.
Às vezes.
Mas não posso. Sou assim - fico furioso quando perdemos jogos, não por jogar mal, mas por sermos ROUBADOS descaradamente. Não alinho com os que defendem a atitude "desportivista" de dar os parabéns aos criminosos, como se eles tivessem ganho algo, e não ROUBADO descaradamente. Fico furioso quando os representantes dos dois maiores partidos são mais que cúmplices de toda a corrupção, não só no futebol mas em toda a vida pública Portuguesa. Fico ainda mais furioso quando vejo alguns que muito reclamam com este estado das coisas e depois votam como carneiros ou então se abstêm.
Sou assim.
E por isso bati a porta e me vim embora. Na esperança que a distância ajudasse. Que cá longe não me importasse que finalmente Portugal afundasse sob o peso da merda.
Só que não ajuda assim tanto. Porra! E agora? Espero estar enganado e que os que aí ficaram ainda sejam suficientes e tenham coragem para fazer algo?
Às vezes, queria ter certezas.